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O meio menos restritivo possível

 

            O meio menos restritivo é aquele onde a criança Surda/o jovem Surdo não encontre restrições à sua aprendizagem, onde possa ter em pleno a Língua Gestual como meio de aprendizagem, onde não encontre paternalismos que lhe confiram pseudo-aprendizagens, onde encontre as bases que lhe permitam uma inclusão social, que passa também pela aprendizagem da leitura e da escrita na língua da comunidade maioritária, no caso português, pela Língua Portuguesa. A este respeito, da aprendizagem da leitura e da escrita, será relevante o estudo de Coutinho (2006), que reporta à verdadeira interacção social, que vá ao encontro das potencialidades e capacidades dos alunos, uma importância grande no âmbito do desenvolvimento das Representações Sociais da leitura e da escrita, que, por sua vez, se revela fulcral no contexto da aprendizagem destas duas competências.

             Porque a escola regular continua a ser madrasta para o Surdo (Baptista, 2007), mesmo que até haja professores de LGP. São momentos pontuais de aprendizagem, que cessam nos contextos reais – cantina, aulas das diversas áreas curriculares, recreio, etc. Aliás, como lembra Estanqueiro (2006), não é a presença de um intérprete de LGP na sala de aula que vai solucionar o problema, uma vez que o intérprete traduz um conteúdo para uma língua que a criança não domina. É necessário que a criança tenha um formador para a aprendizagem da LGP e para auxiliar os diversos docentes a ministrar os conteúdos curriculares (Estanqueiro, 2006). O ideal seria que o processo de ensino/aprendizagem se efectuasse em Língua Gestual, mas poucos são os professores que dominam esta língua, como lembra Estanqueiro. O objectivo é o domínio das duas línguas da criança: a LGP e a Língua Portuguesa (Estanqueiro, 2006).

               Intervenção, então, onde?

 

              Baptista (2007) defende o modelo sueco de atendimento a estes alunos, ou seja, a institucionalização das crianças surdas em escolas residenciais, a fim de que estas possam “viver numa comunidade onde se utilize a língua gestual” (p. 230). Afirma, aliás, que as associações de surdos portuguesas também defendem escolas especiais para surdos. Nesse espaço, todo o pessoal, docente e não docente, deverá comunicar fluentemente com os alunos numa língua comum, proporcionando, assim, “uma grande oportunidade de socialização e é um óptimo ambiente para desenvolver a auto-estima” (p. 231), e, acrescentaríamos nós, na esteira do que afirma Silva (2005), evitar défices significativos ao nível da inteligência emocional.

          Esta aquisição, falamos da aquisição linguística, como vimos, deve ser feita em ambiente natural – e, por isso, como também retivemos aqui, se fala em aquisição e não em aprendizagem. Por ambiente natural, entendem-se as várias experiências comunicativas. A comunicação implica partilha, implica estar com /partilhar. Tal remete para um estudo muito interessante, levado a cabo por Mercer (2000), que aborda uma temática centrada no termo ‘interthinking’. Mercer (2000, p. 1) define “interthinking” como o uso da linguagem - estará agora a falar da língua - “to think and act together”. Chama-lhe uma actividade retórica. Diz o autor que o conhecimento da “shared history is a resource for building shared contex” (p. 46). O autor fala, a este propósito, das conversas regulares – as “long conversations” -, sobre temáticas que têm continuidade sempre que as pessoas se encontram. São episódios que se vão juntando na construção do tal contexto partilhado, de um saber comum, que resulta dos “meanings of past language use into those of the future” (p. 72) – a construção do futuro a partir do passado (será por isto que se poderá falar em cultura, no caso surda). É “uma forma de conhecimento construído socialmente” (Jodelet, 1989, citado por Coutinho, p. 155). Esta construção, comum, do conhecimento humano permite também, ainda segundo aquele autor, desenvolver competências indispensáveis para a vivência em comum: a persuasão, o controlo e a argumentação. Enquadra-se aqui, então, a nosso ver, a “teoria das Representações Sociais”, enunciada por Coutinho (2006, p. 154) – o “saber do senso comum”.

            É no âmbito desta importância que surge o termo «comunidade», o qual, se remontarmos às suas origens latinas, está relacionado com «comunicar» e com «comum» (Mercer, 2000). 
      Presentemente, em Portugal, existe uma oferta que poderá ser considerada satisfatória, as Escolas de Referência. 

 

 


Fátima Almeida*2009

Deficiência auditiva Proposta de intervenção




     Nota introdutória

 

A integração de crianças surdas em escolas e turmas de ouvintes

é um anátema para o Mundo Surdo

(Lane, 2006)

 

 

         Coutinho (2006) afirma que

 

O “Aspecto central para o desenvolvimento global da criança surda é a importância que deve ser dada ao seu desenvolvimento linguístico e, sobretudo, à aquisição da primeira língua, a sua língua materna – que, no caso das crianças surdas portuguesas, é a Língua Gestual Portuguesa [LGP] – como principal meio para que a criança surda atinja os níveis de desenvolvimento global da criança ouvinte” (p. 163).

 

                A aprendizagem, através da LGP, deverá ter lugar... onde?

 

 

 

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