Deficiência Visual
Nunca tínhamos verdadeiramente pensado na distância entre a realidade construída por uma pessoa cega e a realidade “real”. O mesmo é dizer, entre “una realidad que existe independiente del hombre (…) y una realidad elaborada que como sistema de ideas forma parte de nuestro conocimiento del mundo” (Carvajal, 2001: 110).
Lemos em alguns autores (Lowenfeld, 1981, citado por Simões, 2002; Cantavella, Leonhardt, Esteban, Nicolau & Ferret, 1992) aquilo que o breve diálogo tido com pessoas cegas nos fez perceber; Lowenfeld (1981, citado por Simões, 2002: 9), por exemplo, disse que “é impossível para os cegos compreender o que as experiências visuais realmente significam, tal como para os normovisuais compreender o que é ser completamente cego”. Quanto mais estudávamos esta problemática, mais entendíamos as palavras de Leonhardt (1992: 20): “La ceguera es un déficit muy complejo que implica toda una serie de restricciones perceptivas que deben tenerse en cuenta en la relación com la persona”.
Também nunca tínhamos colocado estas questões: "como são os sonhos de quem nunca viu?", "como é que as outras pessoas são identificadas?", "como será o mundo apenas feito de sons, do toque, de odores e de paladares?" (Martins, 2007).
O nosso pensamento estava (e não deixou completamente de estar) próximo daquilo que o autor mencionado, Martins, afirma:
Nas representações dominantes na nossa sociedade, a ideia da cegueira encontra-se firmemente vinculada ao tema do sofrimento e da tragédia, constituindo uma projecção que tende a pensar as vidas das pessoas cegas imputando-lhes as noções de infortúnio, incapacidade e tragédia, como marcas identitárias poderosamente incrustadas, estigmas que frequentemente conflituam com as concepções positivas e os desejos de realização de quem é cego.
E não é assim (muito embora, como nos afirmou um dos técnicos contactados, na cegueira adquirida, a fase inicial seja terrível).
Inicialmente, a ideia que tínhamos sobre a cegueira era algo próximo disto: a cegueira é a ausência da visão. Críamos, neste segmento, que teríamos uma compreensão do que é a cegueira, se vendássemos os olhos e nos deslocássemos pela cidade ou por outros espaços. É um facto que esse exercício nos dá uma visão do que é não ter a visão. Mas, mesmo aqui, ficaremos a anos-luz de apreendermos o que é ser-se cego, sobretudo congénito. O mundo a preto ou a branco, particularmente se sempre o foi, é algo que, agora, conseguimos entender… que não o conseguiremos nunca entender.
Fátima Almeida*2009